blog 1.fw

O Faz-De Conta no Desenvolvimento das Crianças.

O blog irá transcrever uma entrevista com a psicóloga Fabiana Biagigo, feita em 2017 ao canal do Teatrando no youtube. Você poderá conferir a entrevista clicando aqui. 

 

A matéria prima mais importante do curso Teatrando é a imaginação dos alunos, as brincadeiras e a liberdade criativa. Qual a importância para a criança ter um espaço desses para se desenvolver?

FABIANA: Brincar de casinha, escolinha, boneca, carrinho, super herói, teatrinho… tudo isso faz parte de nossa infância e de nossos filhos, sobrinhos e afilhados. Por vezes, ficamos nostálgicos, revivendo aqueles momentos nos quais podíamos experimentar todas as facetas do nosso mundo de maneira livre e criativa. É uma saudade de algo que preenche a vida quando somos pequenos.

 

O mundo é repleto de significados e, através do jogo e da fantasia, a criança tem a oportunidade de atribuir seu próprio sentido às informações externas que recebe. É por meio da brincadeira e dos símbolos nela contidos, que as crianças são capazes de aprender e apreender o mundo ao seu redor. Jean Piaget, biólogo e psicólogo suíço, confirma a importância da brincadeira e sua ligação com a realidade e a fantasia, ao afirmar que quando a criança brinca, ela faz seu próprio mundo.

 

Brincando, a criança é capaz de expressar seus anseios, impressões do dia a dia, angústias, medos e conflitos. Essa é sua maneira de comunicação e expressão, seu modo de contar ao mundo o que lhe acontece internamente, buscando solução e elaboração para seus conflitos. É uma maneira eficiente e prazerosa de aprender que ela é capaz de intervir na realidade e transformá-la. No mundo do faz de conta, a criança pode ser o que quiser e transformar a realidade de acordo com seus desejos: cabo de vassoura vira cavalo, panela vira capacete, boneca vira filha.

 

Podemos dizer então que a fantasia é um elo entre a criança e a sua realidade. Como ela contribui no aspecto intelectual e social do aluno?

FABIANA: Segundo Lev Vygotsky, importante psicólogo bielo-russo, tanto o jogo como a fantasia realizam um papel essencial para o desenvolvimento humano. O faz de conta traz para a criança a possibilidade de amadurecimento emocional, social, físico e intelectual.

 

Intelectualmente, a criança desenvolve habilidades como criatividade, organização, planejamento, negociação, resolução de problemas e aprende sobre os costumes familiares. Fisicamente, sua coordenação motora e espacial são estimuladas. Ela explora suas capacidades físicas, pulando, saltando, correndo, rolando…

 

Do ponto de vista social, por meio da fantasia, a criança começa a compreender os papéis sociais, seu lugar dentro da família e da sociedade. Além disso, ela aprende a compartilhar, ter empatia, reconhecer o outro, tolerar, cooperar, esperar, controlar seus impulsos e lidar com frustrações. Os ganhos emocionais também são muito importantes: a criança aprende a identificar emoções, lidar com medos e ansiedades, desenvolve autoestima, autoconhecimento, segurança e independência.

 

Desde muito cedo, os pais olham para seus filhos com a preocupação de prepara-los para o futuro. E por conta dessa ansiedade, lotam a agenda das crianças com inúmeras atividades, esquecendo que os pequenos precisam ter tempo para brincar. Os jogos do Curso Teatrando são uma recuperação das brincadeiras antigas, brincadeiras de rua, de condomínio. Qual é o impacto positivo para criança ter um tempo para si?

FABIANA:  Atualmente, a preocupação com o futuro dos filhos e sua preparação para um mundo bastante competitivo, faz com que alguns pais e educadores “esqueçam-se” ou “minimizem” a importância do brincar. Não é incomum que o tempo que deveria ser dedicado para a brincadeira espontânea, livre e criativa seja preenchido com inúmeras atividades dirigidas e programadas.

 

Brincar tem um importante impacto no desenvolvimento saudável e na vida psíquica das crianças. Na brincadeira, inúmeras tarefas são exploradas, algumas delas já citadas anteriormente: capacidade de expressão verbal e não verbal, linguagem, raciocínio, pensamento abstrato, representação espacial, curiosidade, criticidade, objetividade, reflexão, flexibilidade, atenção, concentração, memória, imitação, criatividade, imaginação, relacionamentos intrapessoal e interpessoal, cooperação, iniciativa, autonomia, autoestima e sentimentos de competência.

 

Para o adulto, brincar junto com uma criança, pode ser uma oportunidade ímpar de estimular a imaginação, incentivar a busca de soluções para os problemas que se apresentam, despertar ideias e reflexões sobre os mais diversos temas e de compartilhar as sensações e reações da criança diante do mundo de fantasia. Brincar com alguém reforça os laços afetivos. As crianças costumam adorar ouvir histórias sobre como os adultos brincavam quando crianças e esse diálogo é capaz de revitalizar a relação e inspirar a criatividade e a curiosidade.

 

 

 

Sem Título-2

A Importância do Teatro na Educação

O blog irá transcrever uma entrevista com a psicopedagoga Luciana Macedo Fernandes, feita em 2017 ao canal do Teatrando no youtube. Você poderá conferir a entrevista clicando aqui. 

 

A missão do Teatrando é a de utilizar as técnicas teatrais como uma ferramenta pedagógica. Como o teatro pode contribuir num processo educacional?

LUCIANA: Educação escolar deveria ser uma arte também…. Infelizmente ainda percebemos um processo educacional formal arcaico que não acompanha as demais evoluções humanas. Aplicamos as mesmas técnicas, didáticas e metodologias de décadas! As nossas crianças/adolescentes sentem esse marasmo educacional e se tornam alunos cada vez mais desmotivados – os conteúdos são mais acessíveis a todos nas redes sociais, o que os faz questionar a importância do ambiente escolar, dos assuntos abordados e, inclusive, da figura do professor. Uma pena. O aprender é um processo muito mais prazeroso quando compartilhado. A escola deve buscar se reinventar e trazer os alunos como parceiros dessa deliciosa arte de viver e aprender – para tal, o Teatro é uma opção muito interessante.

 

A relação dos alunos entre si e com os professores do Teatrando durante uma aula de teatro é bem diferente do que a relação numa sala de aula tradicional. Essa diferença é importante porque?

LUCIANA: Caso o professor permita que a criança/adolescente participe ativamente, imagine, brinque e construa o processo educacional junto com ele, estará criando um ambiente propício a uma aprendizagem real e duradoura. Habilidades de atenção, memória, organização, equilíbrio, aprender a lidar com emoções próprias e dos outros, são importantes para o processo de vida de uma forma geral. Educação criativa e prazerosa!

 

A geração de hoje vive de uma forma completamente diferente do que a geração de quinze, vinte anos atrás. A presença da tecnologia trouxe hábitos diferentes para crianças e adolescentes. E o teatro é uma atividade que podemos classificar como artesanal. O Teatrando preza muito a recuperação dos jogos de rua, da interação olho no olho e do contato direto trabalha quais aspectos perdidos com relação as gerações passadas?

LUCIANA: Algo que me deixa imensamente preocupada nos dias de hoje é o uso indiscriminado de tecnológicos por crianças cada vez mais novas! Em qualquer lugar que a gente vá, vemos crianças pequenas, muito pequenas, imersas em celulares/tablets numa hipnose coletiva. Onde fica o tão importante e fundamental “jogo simbólico” (faz-de-conta) no cotidiano das nossas crianças atualmente!? Perigosamente, os adultos se orgulham de seus filhos já saberem usar os eletrônicos em tão tenra idade. Em contrapartida, essas mesmas crianças não sabem comer sozinhas, vestir-se, amarrar o cadarço, subir uma escada, pular, escovar os seus dentes, limpar-se após usar o banheiro, andar de bicicleta… E, cada vez mais, apresentam dificuldades em seu processo educacional de alfabetização porque não aprenderam a pensar, refletir, desejar, buscar, elaborar, se frustrar – etapas fundamentais na aquisição do aprendizado. Precisamos motivar as nossas crianças a brincar, experimentar, fazer descobertas, inventar, socializar, fazer de conta, se fantasiar, contar/ouvir histórias… Reflexão necessária e urgente!