O blog irá transcrever uma entrevista com a psicopedagoga Luciana Macedo Fernandes, feita em 2017 ao canal do Teatrando no youtube. Você poderá conferir a entrevista clicando aqui.
A missão do Teatrando é a de utilizar as técnicas teatrais como uma ferramenta pedagógica. Como o teatro pode contribuir num processo educacional?
LUCIANA: Educação escolar deveria ser uma arte também…. Infelizmente ainda percebemos um processo educacional formal arcaico que não acompanha as demais evoluções humanas. Aplicamos as mesmas técnicas, didáticas e metodologias de décadas! As nossas crianças/adolescentes sentem esse marasmo educacional e se tornam alunos cada vez mais desmotivados – os conteúdos são mais acessíveis a todos nas redes sociais, o que os faz questionar a importância do ambiente escolar, dos assuntos abordados e, inclusive, da figura do professor. Uma pena. O aprender é um processo muito mais prazeroso quando compartilhado. A escola deve buscar se reinventar e trazer os alunos como parceiros dessa deliciosa arte de viver e aprender – para tal, o Teatro é uma opção muito interessante.
A relação dos alunos entre si e com os professores do Teatrando durante uma aula de teatro é bem diferente do que a relação numa sala de aula tradicional. Essa diferença é importante porque?
LUCIANA: Caso o professor permita que a criança/adolescente participe ativamente, imagine, brinque e construa o processo educacional junto com ele, estará criando um ambiente propício a uma aprendizagem real e duradoura. Habilidades de atenção, memória, organização, equilíbrio, aprender a lidar com emoções próprias e dos outros, são importantes para o processo de vida de uma forma geral. Educação criativa e prazerosa!
A geração de hoje vive de uma forma completamente diferente do que a geração de quinze, vinte anos atrás. A presença da tecnologia trouxe hábitos diferentes para crianças e adolescentes. E o teatro é uma atividade que podemos classificar como artesanal. O Teatrando preza muito a recuperação dos jogos de rua, da interação olho no olho e do contato direto trabalha quais aspectos perdidos com relação as gerações passadas?
LUCIANA: Algo que me deixa imensamente preocupada nos dias de hoje é o uso indiscriminado de tecnológicos por crianças cada vez mais novas! Em qualquer lugar que a gente vá, vemos crianças pequenas, muito pequenas, imersas em celulares/tablets numa hipnose coletiva. Onde fica o tão importante e fundamental “jogo simbólico” (faz-de-conta) no cotidiano das nossas crianças atualmente!? Perigosamente, os adultos se orgulham de seus filhos já saberem usar os eletrônicos em tão tenra idade. Em contrapartida, essas mesmas crianças não sabem comer sozinhas, vestir-se, amarrar o cadarço, subir uma escada, pular, escovar os seus dentes, limpar-se após usar o banheiro, andar de bicicleta… E, cada vez mais, apresentam dificuldades em seu processo educacional de alfabetização porque não aprenderam a pensar, refletir, desejar, buscar, elaborar, se frustrar – etapas fundamentais na aquisição do aprendizado. Precisamos motivar as nossas crianças a brincar, experimentar, fazer descobertas, inventar, socializar, fazer de conta, se fantasiar, contar/ouvir histórias… Reflexão necessária e urgente!